Daniela Menti

Eu tenho uma grande queda por lugares alternativos, escapando da obviedade dos palácios e castelos que estão estampados nos cartões postais dos lugares.

Cheguei em Copenhagen, capital da Dinamarca na semana do Natal, que acredito ser a mais fria e gelada do ano. Já no aeroporto existem placas falando sobre as qualidades do país, e uma delas é serem considerados o “povo mais feliz do mundo”.  A cidade é cirurgicamente limpa, com um sistema de transportes impecáveis. A educação superior é totalmente gratuita, (gratuita não, pois os impostos são altíssimos, o que tira um pouco da alegria do povo mais feliz do mundo), por conseqüência eles tem um dos maiores IDHs de todos os países.

A cidade em tudo que pude conhecer parece ter a vida perfeita, mas em meio a este mar de capitalismo pode-se encontrar um refúgio anarquista independe: Christiania.

Ouvi falar sobre a tal cidade que tem suas próprias leis no centro de Copenhagen assistindo a um programa do Globo Repórter logo antes de viajar. A comunidade tem cerca de 850 habitantes, e sua construção foi realizada numa antiga área militar em 1971, onde muitos hippies, artistas e músicos e idealistas ocuparam as antigas instalações militares e construíram o refúgio como uma forma de protesto ao governo dinamarquês.

A cidade mesmo depois de 30 anos resiste sobre os pilares do movimento Anarquista. Não existe prefeito, muito menos eleições, o sistema funciona sem governo, sem imposição de leis que controlem a organização social da cidade.

Desde sua criação a polícia tentou várias vezes expulsar e regulamentar o uso da cannabis. O lema de “ocupar e resistir” aqui é real.  Somente em 1992 , após 20 anos de sua criação, o governo reconheceu Christiania como uma cidade livre.

Viver sem a necessidade de leis que regulamentem todas as suas ações pode parecer algo caótico, não é? No meio da cidade que parece um conto de fadas modernos onde todo trabalhador paga seus impostos e desfruta dos privilégios do governo  ter como vizinho de porta uma galera que desenvolve várias atividades contestando o sistema capitalista é um experimento social que merece ser conhecido.

Chegar lá pode ser um pouco confuso, mas não impossível. Optamos por chegar lá de ônibus, e logo quando perguntamos ao motorista se aquela era a linha certa para Christiania, ele abriu um sorriso e mandou um “então, vocês estão indo lá para fumar um?” Já sabíamos que o uso de maconha era liberado lá, ao contrário de Copenhagen onde o uso não é legalizado. Mas não tínhamos ideia das proporções! Chegando com ônibus você para a alguns metros do portão de entrada, e já dá de cara com inúmeros graffitis.

Eu preciso dizer que você deve chegar aqui de cabeça aberta. Muitos sites comentam que o local é “sujo e mal cuidado”, mas é preciso entender a história do local antes de começar com julgamentos.

O comércio de haxixe é muito grande, com os mais diversos produtos e tipos, bem como todos os acessórios possíveis para “aprimorar sua experiência”. Basicamente, imagine uma feirinha de Natal, mas sem os enfeites natalinos, eram diversas barraquinhas, carrinhos food-trucks, com os mais diversos produtos de cannabis.

R.I.P Bad Vibes

O que mais me surpreendeu além da arquitetura peculiar do local, foram algumas esculturas bizarras com restos de materiais metálicos, e todo o street art do lugar. Alguns murais são tão realistas que parecem ter sido impressos. Você pode conhecer todas instalações em algumas horas, e vale lembrar algumas regras de conduta:

  • Não fotografar os produtos nem as pessoas, afinal muita gente consome e não quer ser exposto.
  • Não correr: criar um tumulto pode assustar as pessoas como se tivesse algum assalto ou batida policial.

Infelizmente, a cidade sofre um certo preconceito, mas eu vi muito mais gente usando cocaína e outras coisas a luz do dia em cidades grandes como Berlim do que na pacífica Christiania. Precisamos pegar todos os rótulos e rasgá-los.

Gostou da idéia de morar numa cidade livre? Qualquer pessoa é bem vinda par morar aqui, porém existe uma pequena lista de espera de mais de 20 anos para isso.

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