Roteiro: 20 dias pelo Japão
Como transformar um feriado chuvoso em um roteiro dos sonhos pelo Japão
Ah, o combo perfeito: feriado, chuva e uma casa nova (quase arrumada). Enquanto caixas me encaram pedindo para serem desempacotadas, eu decidi deixar a organização para futuro eu e aproveitar o som da chuva para fazer algo muito mais empolgante: escrever meu relato dos 20 dias incríveis pelo Japão.
Com um chá de jasmim fumegante nas cerâmicas japonesas que vieram cuidadosamente embaladas em roupas na mala (a arte do improviso, né?), me peguei pensando em tudo o que vivi recentemente. Foram semanas de emoção, nostalgia e, claro, muita gratidão por ter realizado um dos maiores sonhos da minha vida.
Japão: um sonho dos anos 90 com pitadas de nostalgia
Se você foi criança nos anos 90, sabe que o Japão ocupava um espaço VIP no nosso imaginário. Entre tonkatsus, animes e mangás, a gente cresceu fascinado por aquele universo tão distante quanto mágico. Nos anos 2000, minha conexão com o Japão só se intensificou graças à internet discada (sim, ela existiu!) e plataformas como Tumblr e MySpace.
Moda japonesa, j-rock, visual kei… Eu respirava tudo isso. Então, visitar o Japão não foi só uma viagem, foi uma verdadeira máquina do tempo de volta à adolescência. Cada esquina de Tóquio parecia um agradecimento silencioso à minha versão mais jovem: “Viu? A gente conseguiu!”.
Como tudo começou: a promo que mudou tudo
Era um domingo qualquer em janeiro de 2024, quando a mágica aconteceu: uma promoção para Tóquio, com escala em Nova York, apareceu do nada. Sem pensar duas vezes, comprei as passagens. Só tinha um detalhe: eu não queria ir sozinha.
Meu namorado, infelizmente, não podia ir por causa do trabalho. Então, lembrei de quem? Da minha fiel escudeira, Raquel. Já hviamos viajado antes numa eurotrip e também para o Jalapão.
– “Hey, Raque, quer ir pro Japão em novembro? Só tem um pequeno detalhe… tem conexão nos EUA e precisa de visto.”
– “Me dê dois dias.”
E assim, com a praticidade de quem aceita uma aventura, estava decidido: o Japão nos esperava.
Montando o roteiro perfeito (ou quase) para 20 dias no Japão
Se tem uma coisa que a internet faz bem é te deixar empolgado para viajar. Mas, ao mesmo tempo, é um mar de contradições. O TikTok, por exemplo, é ótimo para te dar ideias, mas também é mestre em transformar tudo em “mais do mesmo”. Parece que todo mundo faz as mesmas coisas e segue as mesmas dicas. A plataforma tem sido meu guru de viagens ultimamente. Como meu carisma é de 0%, e meu conhecimento de edição de vídeo é digno de uma senhora que nasceu no século passado, achei melhor escrever sobre a viagem do que gravar uma série de Tiktoks. Vou dividir esse post em duas partes: a primeira sendo Tokio e arredores e a segunda sendo Kyoto + Monte Fuji e retorno a Tokio. Agora pega seu chazinho e vem ler com calma, isso aqui não é pra ser consumido igual vídeo curto, seu viciado em dopamina.
E o Japão? Ah, esse país é o manual da indecisão para quem planeja uma viagem. Os geminianos já sofrem com isso normalmente, mas na hora de escolher o roteiro, tudo se intensifica. São 14.125 ilhas, 177 mil templos e, só em Kyoto, mais de 3 mil templos. Ou seja, nem se você tivesse a energia do naruto quando libera a Kyuubi daria para ver tudo em 20 dias.
Nós optamos por fazer nosso roteiro por conta própria, sem guia ou agência. A ideia era simples: priorizar o que realmente queríamos e deixar o resto livre, sem grandes expectativas. Isso foi essencial para evitar a famosa frustração de “não deu tempo” ou, pior, a correria sem sentido.
Como decidimos o essencial
A estratégia foi básica: cada uma escolheu uma experiência imperdível. A minha escolha? Vestir um kimono e passear por Kyoto como se fosse uma personagem de época (com direito a muitas fotos, claro, pobre Raquel para me aguentar). A escolha da Raquel? Visitar o parque temático da Hello Kitty e abraçar toda a fofura possível.
Com esses dois “tem que ter” no roteiro, construímos o resto com flexibilidade. E ficou assim:
Nosso roteiro final ficou assim:
Dicas para planejar o seu roteiro no Japão
- Evite o “checklist da internet”: Escolha atrações que façam sentido para você, mesmo que não sejam as mais populares.
- Menos é mais: Não tente ver tudo em uma única viagem. Selecione algumas experiências e aproveite o momento. No início pensamos em combinar a viagem indo pra Coréia do Sul, mas optamos pelo slow-travel
- Deixe espaço para imprevistos: O Japão é cheio de surpresas, desde jardins escondidos até cafés temáticos inusitados.
Tóquio: Shibuya, Ginza, Shinjuku e Harajuku – Primeiras Impressões e Dicas
Depois de muitas horas de voo e uma bagunça no relógio biológico, finalmente pousamos em Haneda. Tóquio nos recebeu com chuva leve, um alfabeto completamente diferente e uma vibe que me fez sentir dentro de um anime. Bem-vindos ao Japão!
Primeiros passos no aeroporto
Assim que desembarcamos, começamos o “ritual de preparação”:
- Formulários y burocracias: É preciso preencher um formulário de entrada no proprio aeroporto, não se preocupe, ele está com tradução em inglês.
- Troca de moeda: Trocamos nossos dólares por ienes no próprio aeroporto. Não é a melhor cotação, mas preferimos praticidade a caçar casas de câmbio na cidade.
- Suica Card: Adquirimos e habilitamos o Suica Card, que é basicamente um cartão pré-pago para transporte público. Dá para comprar físico ou habilitar no celular. Detalhe, só funciona no Iphone, preconceito contra os Androiders. Perfeito para metrô e ônibus que não estão cobertos pelo JR Pass.
- Chip de internet: Optamos pelo app da Airalo, comprado online. Pagamos $26 por 20 GB (30 dias). Sobraram dados mesmo usando direto!
- JR Pass: Esse é beeeem polêmico. Compramos o JR Pass apesar de ele sair mais caro do que comprar trechos individuais. O motivo? Tranquilidade para pegar qualquer trem-bala, mesmo que errássemos ou decidíssemos visitar uma cidade de última hora. Custou cerca de R$3.000 e foi o maior gasto depois das passagens e hospedagem.
Hospedagem em Tóquio: dica certeira
Nosso hotel foi o WPU Shinjuku, super confortável, com localização perfeita. Shinjuku é uma área vibrante, cheia de bares, karaokês, restaurantes e mercados 24h, mas menos caótica que Shibuya. Ah, tem um Family Mart bem em frente, onde descobrimos o melhor onigiri de tuna com maionese de toda a cidade.
Dica de ouro: escolha um hotel próximo ao metrô. Isso facilita muito sua vida em Tóquio!
Explorando Tóquio: primeiras atrações
Shibuya Sky: Na noite da nossa chegada, fomos direto para o Shibuya Sky. É aquele observatório incrível que te dá uma vista espetacular das luzes da cidade. Uma forma mágica de dar “oi” para Tóquio. Jantamos ali mesmo, aproveitando o clima da região. Minha escolha pra primeira janta: ovo de pato envelhecido num restaurante que acho que era chinês, surpreendentemente bom.
Bairro Ginza e TeamLabs Planets: No dia seguinte, fomos para Ginza, o bairro das marcas de luxo e arquitetura impecável. Nossa parada principal foi o TeamLabs Planets, um museu imersivo com instalações bem psicodélicas. Para ser honesta, não foi meu lugar favorito. É bonito e ótimo para fotos, mas estava lotado e parecia mais pensado para crianças ou amantes de selfies. Aqui sofremos para pegar o primeiro ônibus, mas como os japoneses estão sempre um passo à frente, tem um tutorial em inglês de como pagar a passagem. Outra dica: siga quem tem feições ocidentais, certamente são turistas e às vezes estão tão perdidos quanto você.
Fotos estilo cyberpunk: À noite, realizamos um sonho meu: contratamos um fotógrafo para um ensaio de fotos com estética cyberpunk. Exploramos algumas áreas menos turísticas de Shinjuku, um pouco suspeitas, mas que renderam fotos incríveis. Foi uma experiência divertida e diferente, bem cara da cidade!
Dica Extra:
Se tem algo que desafia até os melhores estrategistas, é a malha ferroviária de Tóquio. São tantas linhas, cores e empresas diferentes operando que parece um grande jogo de tabuleiro onde você não tem todas as regras. Tem JR, Tokyo Metro, Toei e até umas companhias que você nunca ouviu falar, cada uma com sua própria tarifa e bilhete. Trocar de linha pode ser como atravessar dimensões, e errar o trem é quase um ritual de iniciação para turistas. Mas no final, você chega onde precisa… eventualmente. E é aí que o Suica Card e o JR Pass salvam a dignidade!
Dia 2: Nikko – Uma Aventura no Interior do Japão
Se eu pudesse resumir o dia em Nikko em uma frase, seria: “O destino recompensa quem persevera… e quem pega cinco trens errados porque choro de puta deus nao escuta” Sim, foi um verdadeiro baile para chegar lá, mas valeu cada perrengue.
Por que Nikko?
Durante minhas (poucas e nada úteis) aulas de japonês, meu professor mencionou Nikko, uma cidade no interior conhecida por sua calma e beleza. E, claro, por uma ponte vermelha famosa. Só isso já foi o suficiente para me convencer a ir. Teve uma vez, na Italia, que viajei quase 500km só pra ver uma cisterna antiga, o que seria uma ponte perto disso?
No Google Maps, o trajeto parecia simples: 2 horas de Tóquio. Mas a realidade incluiu trens que mudavam de sentido no meio do nada, uma coreografia de troca de linhas e 4 horas de viagem. Um esforço homérico tentando falar inglês, ou palavras soltas com os guardas locais para descobrir qual trem subir. Aí entra a importância do JR Pass: se não fosse por ele, só os erros teriam custado uma pequena fortuna.
Primeiras impressões de Nikko
Assim que chegamos, a diferença era notável: Nikko é um refúgio de calma em contraste com a energia caótica de Tóquio. O trajeto até lá já dava indícios do que encontraríamos: muito verde, plantações de arroz, rios cristalinos e cachoeiras escondidas pelo caminho.
Nossa primeira parada foi na saída da estação (agora a estação certa), onde provamos bolinhos locais que estavam deliciosos (e merecidos depois do trajeto). Sem pressa, seguimos até a famosa Shinkyo Bridge, a ponte vermelha que parece saída de um cartão-postal. Continuamos explorando até um templo que, embora não permitisse fotos internas, era lindo e cheio de detalhes históricos.
Sabe aquele dia em que você não tem pressa nem um roteiro fixo? Foi exatamente assim. E talvez por isso tenha sido um dos meus dias favoritos. A tranquilidade de simplesmente estar presente fez toda a diferença. Aqui um registro das comidinhas diferentes:
Leitura para complementar: Assassinato do Comendador – Muramaki. As descrições do autor durante a viagem do personagem principal para as montanhas me lembrou muito as paisagens até Nikko.
De volta à Tóquio: Shinjuku em ação
A volta foi bem mais tranquila (dessa vez aprendemos com os erros). Exaustas, mas felizes, chegamos a Shinjuku. E, como era cedo para encerrar o dia, decidimos tentar a sorte nos jogos de azar… ou quase isso. Fomos direto para os fliperamas e gachapons (aquelas máquinas que soltam bichinhos de pelúcia e outras bugigangas coloridas irresistíveis). Foi a dose perfeita de diversão para fechar o dia.
Dicas rápidas para visitar Nikko
- JR Pass salva vidas: Especialmente se você errar os trens (como a gente).
- Sem pressa: Nikko é para ser apreciada no ritmo dela, sem aquela vibe de “checklist”.
- Bolinho local é parada obrigatória: Aproveite as delícias únicas que só a região oferece.
Nos próximos dias seguimos para mais aventuras, mas Nikko sempre terá um lugar especial no meu coração (e na minha lista de perrengues bem-humorados).
Dia 3: Tsukiji Fish Market e o Parque da Hello Kitty
Acordar com fome em Tóquio é quase uma bênção, porque a cidade é um banquete a céu aberto. Nesse dia, nosso destino matinal foi o Tsukiji Fish Market, famoso pelo leilão de atum e, claro, pela comida de rua.
Manhã no Tsukiji Fish Market
Pulamos o leilão (que exige madrugar) e fomos direto ao que interessa: as barraquinhas de comida. Experimentei um pouco de tudo:
- Espetinho de baby polvo: A textura pode ser inusitada, mas o sabor vale a coragem.
- Bolinho empanado de peixe: Quentinho e perfeito para quem adora frituras.
- Sorvete de flor de sakura: Leve, floral e uma sobremesa obrigatória no Japão.
A variedade é insana, e cada barraca tem algo único para provar. Saímos satisfeitas e prontos para a próxima parada: o Parque da Hello Kitty.
Parque da Hello Kitty
Se você é fã da gatinha mais famosa do Japão, pode ir com expectativa moderada. O parque é fofo, mas menor e menos emocionante do que esperávamos. Entre as atrações, há teatrinhos e muitos espaços instagramáveis, mas não muito mais que isso.
Depois de uma volta rápida, decidimos encerrar a visita e fomos direto ao McDonald’s, curiosas para provar o Mc Camarão. Ele é interessante, mas nada revolucionário. Ainda assim, vale a experiência para riscar da lista.
Dia 4: Harajuku e despedida de Tóquio
Se tem um lugar em Tóquio que é a personificação do cool, é Harajuku. É o paraíso para quem gosta de moda alternativa, lojas únicas e comida de rua.
Explorando Harajuku
Chegamos cedo, e quase tudo estava fechado. Às 10h, o cenário mudou: as ruas se encheram de vida, turistas e locais desfilando os looks mais ousados. Aqui é onde você encontra:
- Brechós incríveis: Desde achados vintage até peças de grife.
- Streetwear: Lojas especializadas em tênis e marcas hype.
- Comidas icônicas: Os crepes recheados e o espetinho coreano de queijo são indispensáveis.
- Se prepare para passar horas nas lojas, tem muita coisa diferente, porém, para roupas, se você é tamanho GG (grande&gostosa) é bem dificil achar roupas que sirvam. Tive dificuldade para achar calçados e olha que calço 38.
Harajuku também é conhecido pelos cafés temáticos com animais, mas como não somos fãs desse tipo de atração, preferimos focar na comida e nas lojas.
Partindo para Kyoto
No final do dia, pegamos o trem-bala para Kyoto. Depois de quatro dias intensos em Tóquio, era hora de desacelerar e explorar o lado mais tradicional do Japão.
Dicas práticas para esses dias
- Chegue cedo nos mercados: Especialmente se quiser evitar multidões ou assistir aos leilões.
- Parque da Hello Kitty: Boa opção para quem está com crianças ou busca fotos fofas, mas não crie muita expectativa.
- Harajuku no domingo: É o melhor dia para moda de rua e agito, mas vá preparado para multidões.
- Trem-bala: Garanta assento reservado em viagens mais longas como Tóquio-Kyoto para maior conforto.
No próximo post vamos para Kyoto – Hiroshima, Mijayima Nara e Osaka.
Leia mais: Roteiro: 20 dias pelo Japão
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