Roteiro: 20 dias pelo Japão parte 2
Dia 5: Kyoto – Hiroshima e Miyajima
Se existe algo que facilita a vida de quem explora Kyoto, é estar hospedado ao lado da estação de trem. Nosso hotel foi um verdadeiro achado, um Ibis em frente à estação principal e dali partimos direto para um bate-volta cheio de história e natureza, começando por Hiroshima.
Manhã em Hiroshima
Pegamos o trem-bala para Hiroshima, um destino que mistura história, beleza e uma dose de reflexão. Nosso primeiro ponto foi o Memorial da Paz e os destroços da Prefeitura, um cenário impactante que nos faz lembrar da força e resiliência dessa cidade.
Para aliviar o clima, seguimos para o Castelo de Hiroshima, um local muito bonito e que, por sorte, estava com uma exposição de flores. Havia também uma cerimônia escolar, e ver várias crianças de kimono tirando fotos em família foi um momento super fofo. Ah, e não poderia faltar meu clássico sorvetinho japonês – desta vez, de matcha.
Eu não gosto de turismo de desgraça, mas entendo a importancia de visitá-los, então não ficamos muito tempo por lá. O próximo destino era bem mais leve e encantador: Miyajima.
Tarde em Miyajima
A ilha de Miyajima, que é acessível de balsa (sim, o JR Pass também cobre isso), é um daqueles lugares que parecem saídos de um filme do Studio Ghibli. O famoso Torii flutuante é a atração principal, mas a verdadeira estrela são os veadinhos soltos que passeiam livremente e interagem com os visitantes.
A ilha tem um charme especial, com casinhas tradicionais, trilhas que levam a santuários escondidos nas montanhas e os famosos ryokans, onde é possível experimentar uma cerimônia do chá. Passeamos tranquilamente, tiramos muitas fotos e no final da tarde voltamos de balsa e trem-bala para Kyoto. É tranquilo visitar sem pressa pois a balsasai a cada meia hora. Apenas precisamos pagar uma taxa de turismo (nao lembro ao certo mas foi algo como 25 reais). Eu juro que depois de tanto trem errado estava morrendo de medo que a balsa me levasse literalmente para a cochinchina.
Dia 6: Nara – Entre cervos sagrados e chuva
No dia seguinte, a previsão do tempo estava contra nós, mas não nos deixamos intimidar. Arriscamos o trajeto de 40 minutos até Nara, famosa pelos cervos sagrados que circulam livremente pelo Parque de Nara.
Os cervos e a lenda
Esses cervos não são só bonitinhos; eles têm status de divindade no Japão. Segundo a lenda, um deus xintoísta desceu à Terra montado em um cervo branco, o que tornou esses animais sagrados e protegidos há séculos. Até 1637, matar um cervo era considerado crime passível de morte.
Hoje, cerca de 1.200 cervos vivem soltos pela região, e muitos são bem espertinhos: se você comprar os biscoitos especiais para alimentá-los, eles literalmente se curvam para você em troca do petisco. Mas cuidado, eles não têm vergonha de roubar comida ou dar umas mordidinhas na sua roupa se acharem que você está enrolando. Sim, eles vão morder sua bunda se você se distrair.
Mesmo com chuva, valeu a pena
Apesar do clima nublado e de alguns pingos, o passeio foi incrível. Além dos cervos, o parque abriga templos lindos como o Todai-ji, que tem uma estátua gigantesca de Buda e é parada obrigatória. Visitamos uma feira e um templo próximo ao parque para tentar fujir da chuva mas tomamos um banho da mesma forma.
Voltamos para Kyoto no final da tarde, um pouco molhadas, mas com memórias incríveis de mais um dia mágico no Japão. Encerramos a noite num sushi de esteira, onde você escolhe o prato no tablet e ele vem numa esteirinha, estava delicioso.
Dicas rápidas para Hiroshima, Miyajima e Nara
- JR Pass é essencial: Cobre os trajetos de trem-bala e a balsa para Miyajima.
- Miyajima à tarde: A luz do entardecer deixa o torii ainda mais bonito. Fique de olho na maré, pois dependendo a hora do dia, o Tori fica na parte seca.
- Cervos de Nara: Segure firme suas coisas e esteja preparado, um cervo ainda vai morder sua bunda.
- Clima: Leve uma capa de chuva – o tempo pode mudar rápido.
Dia 7: Kyoto – Aluguel de Kimono, Fushimi Inari e surpresa mágica à noite
Ah, Kyoto, a cidade das tradições e dos turistas! Nesse dia, mergulhamos de cabeça na experiência japonesa ao alugar um kimono para explorar a cidade.
Aluguel de Kimono – A transformação
Reservei o primeiro horário na loja para garantir um kimono bem bonito. Escolhi um modelo em tons de rosa e lilás, super delicado. O processo para vestir é quase uma arte: a funcionária dobrou e amarrou o tecido como se estivesse montando um origami humano – levou uns 15 minutos só para deixar tudo impecável.
Depois disso, fui para a sala de cabelo e maquiagem, onde escolhi um enfeite floral para o penteado. Finalizamos com uma bolsinha de mão e o chinelo tradicional… que não coube no meu pé. Solução? Fui de tênis mesmo, porque o conforto sempre vence.
Com o kimono alugado até às 17h, começamos o passeio pelos templos da cidade, parando para muitas fotos no caminho. Em cerca de 3 horas estavamos desidratando de calor, devolvemos as roupas e seguimos para nossa próxima aventura: o famoso Fushimi Inari Taisha. Ah, menção honrosa pro melhor sorvete de morango com leite da história. Que gelato italiano o que! O sorvete de kyoto tem uma textura bem firme, mesmo de maquininha, não tem como explicar, apenas sentir sasudades.
Fushimi Inari e Arashiyama – Correndo dos turistas
Se as fotos do corredor de torii do Fushimi Inari passam uma sensação de paz, na vida real estava mais para “bloco de Carnaval”. Com tanta gente, ficou difícil aproveitar, então não subimos muito na trilha e seguimos direto para Arashiyama, a floresta de bambus.
Adivinha? Lotada também! Ainda assim, aproveitamos o parque próximo, onde a natureza nos deu um pouco de tranquilidade antes de voltarmos para o hotel.
A noite mágica nos templos
Na volta pra casa, proximo ao nosso hotel, descobrimos que um complexo de templos estaria aberto à noite para visitas limitadas. Esse evento acontece apenas uma semana por ano, e aquele era o último dia! Corremos para lá e, com um grupo pequeno de cerca de 15 pessoas, exploramos os templos iluminados pela lua.
Foi um dos momentos mais mágicos da viagem. As salas de cerimônias, os budas gigantes e a arquitetura única ganharam um ar ainda mais especial sob a chuva fina que começou a cair de repente. Nunca senti tanta paz quanto naquele momento.
Dia 8: Kyoto – Halloween caótico em Osaka
Depois do caos do dia anterior, escolhemos começar o dia com algo mais tranquilo. Abrimos o Google Maps, olhamos algumas fotos e decidimos visitar um parque pouco conhecido, longe das multidões.
Manhã calma em Kyoto
Esse parque foi um achado. Caminhamos entre pequenos templos e jardins silenciosos, com apenas o som do vento e dos passarinhos. Foi uma pausa perfeita no meio da correria da viagem. Não lembro o nome dele.
À tarde, nos preparamos para algo totalmente oposto: Halloween em Osaka.
De Kyoto a Osaka – Castelos, sushi e Pikachus
Chegar a Osaka é rapidinho, menos de uma hora de trem. Nossa primeira parada foi o Osaka Castle, uma réplica que, por fora, é lindíssima, mas optamos por não entrar. Seguimos então para a NBK – TV Japonesa e depois para a famosa área de Dotonbori.
Se achávamos que Kyoto estava lotada, Dotonbori no Halloween é uma experiência à parte. Fizemos uma parada estratégica em um restaurante de sushi de esteira (ficamos viciadas), onde já aproveitamos para vestir nossas fantasias de Pikachu e dinossauro.
Quando saímos, fomos recebidos por uma multidão de gente fantasiada, no estilo AnimeExtreme em Porto Alegre. Caminhamos um pouco, tiramos fotos e nos divertimos, mas o calor dentro das fantasias estava insuportável. Depois de algumas horas de caos, decidimos que Osaka merece uma visita com mais calma em outra época.
Dicas rápidas para esses dias
- Kimono com tênis? Sem medo!: Melhor ser confortável do que sofrer com chinelos apertados.
- Fushimi Inari e Arashiyama: Vá bem cedo para evitar multidões, ou escolha parques mais calmos.
- Halloween em Osaka: É divertido, mas prepare-se para o caos (e muito calor se for de fantasia).
Descubra o desconhecido: Usar o Google Maps para encontrar lugares menos turísticos pode render surpresas incríveis.
Dia 9: Gotemba – Monte Fuji e o rolê dos Onsen
Gotemba entrou no roteiro de última hora porque, surpresa, a previsão indicava visibilidade total do Monte Fuji. Empolgadas, reservamos um hotel com onsen (os famosos banhos termais japoneses). A gente sabia que tatuagens eram proibidas, mas pensamos: “Ah, vai de camiseta e short, tranquilo”. Só que não. Descobrimos que no onsen não entra de roupa nenhuma. É todo mundo peladinho como veio ao mundoe, para o nosso desespero, o banho era misto. Resumo da ópera: o banho medicinal ficou só na imaginação.
Por sorte, o hotel emprestava bicicletas, e fomos pedalar pelos lagos próximos ao Monte Fuji. A vista compensou o pequeno choque cultural. Nesse mesmo hotel as refeições eram inclusas, mas nao gostamos da gastronomia, e eolha que o nosso limite para provar coisas diferente quase não existe. Fomos embora logo no dia seguinte
Dia 10: Compras em Tóquio
De volta a Tóquio, fomos recepcionadas pela chuva. Decidimos aproveitar o dia dentro das lojas. Se você ama skincare, maquiagem ou aquelas tranqueiras japonesas irresistíveis, Tóquio é o paraíso. Entre um produto e outro, claro, fomos comendo um monte de delícias (destaque para os doces e salgados únicos das lojas de conveniência).
Dia 11: Kawaguchiko – O clássico Monte Fuji
A chuva deu trégua e, com a previsão de visibilidade 100% do Monte Fuji, decidimos ver o Monte fuji novamente e partimos para o Lago Kawaguchiko. O problema foi que 5 mil turistas pensaram a mesma coisa e com isso a jornada foi longa: os trens-bala estavam lotados, e tivemos que pegar ônibus e trens regionais, o famoso “pinga-pinga”. Mas valeu cada minuto. Dessa vez já estavamos expert a malha ferroviária japonesa.
A vista estava perfeita, o Monte Fuji em todo o seu esplendor… exceto por um detalhe: sem neve no topo! Tivemos o “privilégio” de visitar no único ano do século em que o topo estava limpinho. Dois dias depois que voltamos para o Brasil, nevou. É sorte ou azar?
Dia 12: Akihabara e Senso-ji
Akihabara, o bairro nerd, é um verdadeiro paraíso para quem ama eletrônicos, mangás, animes e colecionáveis. Também é o lar dos controversos maid cafés, onde garçonetes vestidas de empregadas servem os clientes de forma peculiar, cheio de taradão nas filas. As filas gigantes mostram que tem seu público. Compramos varias lembrancinhas aqui, inclusive minhas xícaras de cerâmica que uso enquanto escrevo esse post.
Depois de muitas compras, seguimos para o templo Senso-ji, uma das atrações mais icônicas de Tóquio. A historia dele é unica e vale um texto a parte. Porém, comparado à paz dos templos de Kyoto, o Senso-ji parecia um “camelódromo espiritual”. Vale a visita rápida, mas não vá esperando calmaria.
Dia 13: Kamakura – Praia e despedida
Este seria o noso ultimo dia, então optamos por ir pra praia, em Kamakura. Ter um dia mais leve pois a viagem de volta seria longa. A cidade é bem calma, totalmente diferente de toquio, lembra muito nosso litoral gaucho, só que sem a água marrom. A vibe era totalmente diferente de Tóquio, quase nostálgica. Caminhamos pela orla, visitamos um templo de dragões em meio a um bosque e tivemos a sorte de presenciar uma cerimônia. Esses momentos inesperados são os que mais ficam na memória.
Eu fico pensando como temos sorte em viver momentos assim. Se tivessemos ficado 10 minutos a mais na praia nao teriamos tido essa oportunidade. Nos despedimos de Tokio jantando um takoyaki delicioso e um ramen gigante que nunca vou esquecer.
Reflexões e dicas da viagem
- Templos e paz: O Japão me mostrou que espiritualidade pode ser sobre gratidão e evolução, não culpa e sacrifício. Foi a primeira vez que me senti verdadeiramente em paz em um templo religioso.
- Barreiras culturais e linguísticas: Mesmo em Tóquio, o inglês não é tão comum, e nas cidades menores, o tradutor do celular virou meu melhor amigo. Um sorriso e algumas palavras soltas em japonês fazem milagres.
- A comida: Esqueça preconceitos e aproveite para explorar novos sabores. A gastronomia japonesa vai além do sushi, e cada prato é uma experiência cultural.
O que eu faria diferente?
O que eu faria diferente?
- Não gostei de Gotemba, estávamos com tanta expectativa pra entrar nas águas termais e isso me deixou frustrada, sendo que a diária do hotel não foi barata. A comida nesse hotel não era boa e tudo ficava afastado. Valeu a vista do Monte Fuji.
- Reservar o lugar o trem-bala. Se tivéssemos feito isso, não teria demorado tanto ir para Kawaguchikoo
- Visitaria Osaka numa baixa temporada e ficaria uns 3 dias a mais em Kyoto pela gastronomia.
- Se tivesse mais dias de viagem com certeza incluiria as praias de Okinawa no roteiro, que certamente ficará para uma próxima vez.
O que deu certo?
- Hospedagem bem localizada: Escolhemos hotéis próximos às estações, o que fez toda a diferença depois de dias cansativos.
- JR Pass, chip de internet e Suica digital: Resolveram 90% dos problemas de transporte e conectividade.
- Visitas noturnas aos templos: Nada superou a experiência de explorar templos iluminados pela lua, com pouquíssimas pessoas por perto.
Dica de ouro para viajar ao Japão
Não siga apenas influenciadores. A internet nao é mais a dos anos 2000 que o pessoal postava dicas de graça. Agora tudo é “publi” e “lugar instagramável”. Faça sua pesquisa, abra o Google Maps, leia sobre a história do local, olhe as fotos e siga sua intuição. Nem sempre o mais famoso é o mais interessante. Turismo consciente, sempre!
Achei tudo extremamente limpo, e sim, é real: não tem lixeiras! Então, acostume-se a guardar o lixo na sua bolsa. Tudo funciona na base da fila, e, pelo amor, nem pense em cruzar o sinal vermelho, mesmo que não tenha um carro à vista. O silêncio dentro dos trens e ônibus é quase uma regra não escrita. E há áreas específicas para fumantes nos parques — nada de fumar perto de outras pessoas.
Recebi muitas mensagens no Instagram de pessoas que nunca imaginaram ir ao Japão. Minha viagem foi uma mistura de caos e serenidade, mas acima de tudo, foi única. Espero que essas dicas te inspirem a explorar o Japão e criar suas próprias memórias incríveis! Agora bora pra casa com direito a stop over em NY que fica pra um outro post.
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