198 Livros: Colômbia – Do Amor e Outros Demônios
Eu enrolei bastante para ler este livro, empaquei algumas vezes, parei e recomecei. Não é meu primeiro livro do Gabriel Garcia Marquez, já tinha lido “ninguém escreve ao coronel” que era o que eu planejava escrever sobre, mas ganhei este outro de alguém que estava se desfazendo dele no Instagram (obrigada Amanda).
Verdade ou não, Gabriel Garcia Marquez diz que sua avó sempre lhe contara a lenda de uma marquesa de cabelos longos e flamejantes tal qual um véu de noiva em suas costas, a tal marquesa viveu no século 18 enclausurada num convento, que era idolatrada por seus milagres.
Do amor e outros demônios é ambientado em Cartagena, belíssima região caribenha da colômbia. Em 1949, Gabriel que era jornalista, foi enviado para cobrir a demolição de um convento e ao chegar na obra, depara-se com a exumação do corpo de uma jovem que tinha cabelos que chegavam a 22 metros e 11 centímetros ainda presos ao seu crânio, fazendo-o lembrar das histórias de sua avó.
A menina dos longos cabelos é Sierva Maria, filha de aristocratas que se casaram por interesse e negligenciavam a menina desde o seu nascimento. Por vezes, entendi que a mãe chegava a sentir aversão à menina. Fizeram-lhe uma promessa de nunca cortarem os seus cabelos até o casamento.
É preciso lembrar que o século 18 na Europa, foi considerado o “século das luzes”, onde a filosofia ganha novas correntes, como o Iluminismo, no qual a razão vence a obscuridade. Estes movimentos demoram a chegar nas colônias e Cartagena vive ainda sobre os conceitos barrocos, onde o pensamento religioso e a Santa Inquisição fazem parte do cotidiano. Além do mais, Cartagena era um vice-reinado, ou seja, uma unidade administrativa da colônia espanhola, e estava em seus tempos áureos, tendo seus portos carregados de ouro que saiam da colônia e um grande orgulhoso tráfico de escravos africanos. Por estes motivos, a cidade era abitada de grandes aristocratas.
É neste contesto histórico aliado a negligência familiar que Sierva Maria passa a sua infância. As escravas de sua casa acabam criando-a, ensinando a cultura africana, desde mitos, religião até a língua ioruba. Ela sempre vestia colares de cotas que significam proteção e conexão com as entidades africanas.
Um dia a menina é mordida por um cachorro e suspeita-se que ela contraiu raiva. Seu pai, depois de testar tudo o que a medicina oferecia na época, resolve enclausurá-la no convento Santa Clara, no pavilhão das “enterradas vivas”. Acreditava-se que além da raiva a menina fora possuída pelo demônio. Nunca se soube se ela realmente contraiu a doença. As freiras afirmavam que o demônio era muito forte, pois cada vez que alguém tentava tirar os seus colares dados pelas escravas, algo de ruim acontecia no convento, inclusive um eclipse, fez com que a histeria se espalhasse até para fora dos muros do convento.
Mas por falar em ioruba, e ter um comportamento agressivo é enviado um exorcista para que possa livrar a cidade do demônio que está em Sierva Maria. O exorcista, Padre Caetano, representa o pouco de razão que ainda existe na sociedade, pois ele acreditava que não se tratava de uma possessão. É nos diálogos dos dois que podemos entender muito bem o perfil de um país colonizado, com suas misturas de crenças africanas com o catolicismo. E ao duvidar da possessão e ter contato direto com Sierva María, o padre enfrenta algo muito mais difícil de lidar do que demônios: o amor.
O autor é bastante crítico com a intolerância e preconceito da igreja católica, que condena tudo o que não consegue explicar. O fato da menina ter sido criada junto aos escravos e falar várias línguas africanas somente confirmava o diagnóstico da igreja de que ela estava possuída.
Do Amor e Outros Demônios foi lançado em 1994 pela editora Publicações Dom Quixote e no mesmo ano recebeu o Prêmio Nobel de Literatura e está a venda na Amazon.