198 Livros: Índia – Aguapés
Aguapés me foi recomendado numa disciplina de colonialismo do mestrado e havia ficado na lista do “ler mais tarde”. Escolhi tirar ele da gaveta especificamente para o #198Livros
Nilanjana Sudeshna Lahiri assina pelo apelido Jhumpa Lahiri nasceu em Londres e é filha de pais de origem Bengali (de Calcutá), o que a inspirou na escrita de Aguapés, e foi posteriormente criada nos Estados Unidos. Já ganhou um Pulitzer de Ficção (2000) Medalha Nacional de Humanidades (2014) e um Prêmio PEN/Malamud (2017), atualmente mora nos Estados Unidos
Aguapés fala sobre dualidades de vida. A história se passa em Calcutá, na Índia, e conta a história de dois irmãos que eram muito amigos na infância. As diferenças sociais são notadas logo no começo do livro, onde os dois irmãos gostavam de escalar as paredes do clube de golfe inglês caríssimo que ficava próximo do bairro e sofriam represálias por isso, chegando a apanharem de oficiais da polícia só por espiar pelos muros do clube.
O bairro é muito pobre e é circundado por dois rios que se encontram e durante as enchentes trazem todo o lixo da rua embaixo dos aguapés. Os irmãos Subhash e Udayan na escola se tornam exímios estudantes, mas Udayan acaba se envolvendo com movimentos políticos que utilizam técnicas de guerrilha considerados comunistas radicais de extrema-esquerda, de apoio político e ideologia de Mao Tsé Tung.
Mais tarde, Subhash acaba ganhando uma bolsa de estudos e se muda para os Estados Unidos e se muda para lá. Ele segue fazendo seu doutorado nos EUA, até receber um telegrama avisando que o irmão Udayan morreu. Quando chega à Índia descobre as circunstâncias da morte do irmão e a gravidez da cunhada Gauri. Ao ver que a cunhada não era bem tratada por sua sogra, mãe de Subhash, ele decide se casar com a cunhada e levá-la para os EUA.
O livro fala sobre as contradições da vida. A ausência também é muito presente nos pensamentos do irmão que está no Estados Unidos, a dificuldade que ele enfrenta no início em entender a explosão cultural que é o país. Ele acaba por representar um sentimento de “renegação” por ter mudado de país e ter adquirido costumes “ocidentais”, também carrega o peso de não ter se casado com quem os seus pais escolheram, tradição comum na Índia.
A morte de Udayan causa grandes impactos em várias gerações da família. Subhash ao casar-se com a viúva do irmão e assumir a sua gravidez o distancia de vez da família que ficara na India. A criança nasce, uma linda menina chamada Bella que não sabe que seu pai biológico está morto, acreditando ser “um tio distante”.
Ainda no início da gravidez, Gauri retoma os seus estudos em filosofia e em alguns anos ela termina o seu doutorado e numa manhã de inverno, ela deixa o cunhado e a filha para morar na Califórnia onde ela conseguiu um emprego de professora de filosofia em uma universidade.
Gauri mostra outra face da mulher indiana, que em um país era forçada por sua sogra a fazer todas as tarefas da casa. Gauri também era obrigada a usar o traje de luto pelo resto de sua vida. Já, nos Estados Unidos ela se permite a novas experiências de independência, até um relacionamento homoafetivo.
O relato é fluido, mas um pouco distanciado, em algumas partes você não sabe se está lendo sobre o presente, passado ou o pensamento do personagem, é muito incrível como autora consegue fazer este jogo de narrativas. É uma obra que trata de solidão na ausência e na presença, mostrando o deslocamento do sujeito e sua dificuldade de fazer parte de um todo.
Aguapés, foi publicado originalmente em 2014, pela Biblioteca Azul no Brasil