Daniela Menti

Eu gostaria muito, mas muito mesmo, de ser como qualquer amigo meu, que termina a faculdade, arruma o emprego dos sonhos, ganha um salário razoavelmente bom para jantar em restaurantes chiques, compra o carro do ano e se “estabiliza na vida” como diz minha mãe. Mas eu não consigo. Em vez disso, eu sou a “sora de inglês” e consigo guardar todos meus pertences em 3 caixas de papelão. Ou melhor, em uma mochila de 50 litros.

E foi o que eu fiz em 2016. Viajei. E descobri que nem tudo é possível ser organizado com antecedência, e às vezes acredito que tem alguém do outro lado pensando “meu deus, ela é louca”. Dei muito trabalho ao meu anjo da guarda, e espero que ele não desista de mim neste ano. Agora que estou de volta com minha família, não por muito tempo, preciso responder àquela pergunta mais difícil: “Qual foi o melhor lugar que você conheceu em 2016?”.

Como responder? O que significa melhor lugar? Como eu já escrevi em outros textos, aquela ilha gelada que filmaram Game of Thrones roubou meu coração. A Islândia está no topo da minha lista, seja por paisagens, seja por experiências diferentes.

Islândia

Em oito dias num camper com mais quatro pessoas que conheci no dia em que cheguei no aeroporto de Reykjiavik, consegui subir dois vulcões, atolar numa geleira, descobrir que 5 graus pode ser o alto verão do país, tomar um único banho em piscinas termais no meio de um deserto, rodeado por montanhas nevadas. E sim, foi aqui que vi as paisagens mais lindas e diferentes.

Termas de Mývatn

Falando sobre paisagens incríveis e pouco conhecidas, a ilha de Zakyntos compõe o arquipélago das ilhas Jônicas na Grécia, também me deu um bom trabalho. Não sou fã dos pontos extremamente turísticos, e estas opções menos conhecidas acabam sendo mais baratas e incríveis. Bastou pegar uma balsa, um ônibus e o lombo de um burrinho para chegar neste paraíso.

Navaggio Beach

Continuando com as praias incríveis, que tal pegar um ônibus que existe apenas em dias ímpares da semana, numa viagem de 14h sem ar condicionado, com um banco quebrado e uma doce senhora de 180 kg atrás de você chutando seu banco e gritando em algum idioma desconhecido no celular? A ideia de pegar este ônibus, partindo da cidade de Kotor, em Montenegro, e atravessar toda a Albânia em direção a antiga Jugoslávia pode parecer meio assustador, mas no final da viagem incansável, cheguei a cidade de Ohrid, na Macedônia. Não existem praias lá, porém existe um dos lagos mais antigos do mundo,  a locomoção foi bem complicada devido o uso do alfabeto cirílico e quase ninguém falar inglês. Mas são nessas horas que nos lugares mais improváveis encontramos ajuda de pessoas desconhecidas. Um abraço para os três albaneses que nos ajudaram a achar o hostel e estavam perplexos que saímos do Brasil em época de Olimpiadas para passar férias na Macedônia.

Ohrid – Macedônia

Se você achar muito complicado fazer esse trajeto de atravessar a Albânia para encontrar um lago maravilhoso, você pode ficar na cidade de Kotor mesmo, em Montenegro. No verão a água da baía é quentinha e recebe alguns poucos turistas. Então você encontra um lugar animado, mas não tão cheio como as praias conhecidas da Europa.

Kotor – Montenegro

Ok chega de praias. Vamos falar de comidas. Que lugar você pensa quando falamos em boa comida e bom vinho? Exato, a Itália. E que tal pegar uma bicicleta, andar 80km, com a mochila cheia de comida, uma barraca, e umas garrafas de vinho? É claro que a ideia foi uma furada, mas as vilas ao longo do caminho que leva para Arsié no interior da região do vêneto fez valer a pena todo o sacrifício.  A pequena cidade é presenteada com o Lago di Corlo, que foi o quintal da nossa barraca por alguns dias.

Arsié – Itália

Esse tempo que eu passei viajando (o qual deveria estar estudando) foi muito esclarecedor, e a frase mais clichê de todos os blogs de viagem: “eu não vijo para conhecer lugares, mas para conhecer a mim mesma” nunca fez tanto sentido. É uma frase batida que acabou fazendo grande sentido para mim, e acredito que apenas uma vida é muito pouco para nos conhecermos e menos ainda para desvendarmos esse mundão de lugares, amores e pessoas.

Texto escrito para o coletivo: Na Estrada com as Minas

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