O mundo existe para ser descoberto
Em 2016 resolvi correr atrás de um sonho que eu tinha ha muito tempo. Juntei dinheiro por alguns anos, trabalhei muitas madrugadas fazendo trabalhos de desenho de moda, dando aula de inglês particular para amigos. Resolvi que estava na hora de mudar. Larguei um emprego que me consumia emocionalmente tanto o mesmo tempo que ganhei uma bolsa de iniciação científica onde eu poderia trabalhar a distancia.
Resolvi fazer minhas malas e o destino escolhido foi a Itália. Entrei em contato com escolas de italiano e achei uma cidadezinha na região do Vêneto, mesma região dos meus bisavôs, onde eu poderia estudar de graça. Por seis meses Bassano del Grappa foi minha nova casa. Fiz algumas aulas de italiano e fui seguir meu sonho.
Bassano del Grappa foi a cidade que me acolheu, foi lá que vivi uma das melhores épocas de minha vida, sei e espero que virão várias outras. Foi nessa cidade que fiz muitos amigos que levarei por vida, aqui que cheguei sem falar italiano e aos poucos fui aprendendo. Comi, rezei e amei (muito) nessa tal Itália, conheci os lugares de onde vieram meus antenatos, e realizei outro sonho de quebra, ter minha cidadania italiana reconhecida. Foram tantos spritz, tanta pasta, pizza e bruscheta e gelato que me trouxeram 10kg em 3 meses com muita alegria. Itália, você tem um lugarzinho especial no meu coração.
Decidi que iria fazer 30 países antes dos 30 anos. E consegui! Aprendi nesse caminho a valorizar coisinhas simples, como um chimarrão com amigos, andar descalça, o aconchego de encontrar alguém que fala seu idioma, ter uma cama só pra mim. Só nesta viagem foram 12 países, e umas 40 cidades. Nessa jornada eu dormi em chão de aeroporto,banco de rodoviária, hostel com 25 pessoas e até num castelo no interior da Toscana rodeado por oliveiras. Peguei carona, peguei ônibus errado, trem de 12 horas com pessoas roncando, me perdi no metrô por não saber decifrar o alfabeto (olá de novo alfabeto círilico), presenciei os mais lindos pôres-do-sol, nadei em praias paradisíacas, escalei 3 vulcões, fiz trilhas insanas, atolei um trailer nas geleiras da Islândia, acampei nos lagos mais lindos e quase fui para Áustria de bicicleta (longa história).
Lembro-me do quanto eu chorei antes de partir e que chorei o dobro ou o triplo antes de voltar. O intercâmbio é uma grande experiência de desapego porque no final todo aquele tempo precisa caber em duas malas de 32kg. E aí eu entendi que o mais importante é o que coube dentro de mim e isso é imensurável.
Aprendi que não são as coisas físicas que nos fazem ser quem somos, mas tudo aquilo que conseguimos carregar dentro de nós. E então eu agradeço. Sinto uma gratidão enorme por cada um que cruzou o meu caminho nesse tempo e por aqueles que estiveram sempre ao meu lado, por cada lugar que passei e cada lugar que carreguei dentro de mim quando parti, cada sabor daqui e de lá que ficou na minha memória e cada experiência que me tornou a pessoa que eu sou.
O que eu vivi foi um sonho, mas foi também um choque de realidade. Uma forma de sair da caixinha e perceber que esse mundão é muito maior do que eu pensava. O que eu vivi me ajudou a entender que ninguém é obrigado a passar a vida inteira fazendo a mesma coisa, morando no mesmo lugar ou convivendo com as mesmas pessoas. O mundo existe para ser descoberto.