Eu sou fã de novelas da Globo, já passou da hora de admitir isso. E eu gosto ainda mais quando o cenário é alguma paisagem brasileira não tão famosa assim aos olhos do expectador. Eu já tinha ouvido falar dos famosos fervedouros do Jalapão mas era só isso. Ai a novela O Outro Lado Do Paraíso bombou no horário nobre fazendo com que este paraíso no interior do Tocantins aparecesse no Instagram.

Como eu fui parar no Jalapão?

Primeiramente, o Parque Estadual do Jalapão é uma unidade de conservação brasileira localizado no estado do Tocantins, então compreende várias cidades como Mateiros e São Félix. Alguns dos pontos turísticos não fazem parte deste complexo mesmo ficando muito próximos, é algo meio complicado mesmo.

Eu comprei as passagens com 5 meses de antecedência graças a uma promoção da Gol. O ideal é você chegar em Palmas e reservar o primeiro dia para a capital pois a viagem é longa e cansativa até Ponte Alta, uma das primeiras cidades do Jalapão, são quase 200 quilômetros de estrada, grande parte dela não tem asfalto e tem bastante buraco, então já se prepare. Depois até Mateiros são 160 quilômetros só de estrada de chão.

Vale lembrar que o parque tem 34 mil km² entre cachoeiras, lagoas, trilhas, dunas e chapadas. Então não espere encontrar hotéis de luxo pelo caminho. O melhor jeito de conhecer a região é com alguma agência de ecoturismo. O meu roteiro foi feito junto a empresa Jalapão Extremo. Alex, o guia foi muito prestativo e conhece muito bem a região, todo o roteiro foi sugestão dele.

Primeiro dia – Lagoa do Japonês

Quando eu pesquisei as agências de ecoturismo, esta foi uma das únicas que faz o passeio até a lagoa. Eu recomendo muito que você inclua no seu roteiro. A estrada para chegar no local é bem acidentada sendo imprescindível o uso de um veículo 4×4.

Dependendo da luz do dia a água ganha de tons verde esmeralda a azul claro. Não deixe de levar sapatilhas para mergulho ou faça que nem eu e entre de tênis. No local é possível alugar bóias e essas sapatilhas. Quando fomos só havia o nosso carro então resolvemos passar o dia todo lá e sair para ver o por do sol na Pedra Furada. Não deixe de visitar a gruta onde filmaram a abertura da novela, dá pra chegar nadando ou pela trilha. Se você for bom de papo, o moço que cuida na entrada pode te levar numa canoa.

Almoçamos na lagoa mesmo, uma comida típica feita pela Dona Almirina que cozinha igual a um anjo. Acho que engordei 5 kg nesse dia.

O look da pessoa que entra de tênis na água

Olha o fundo dessa lagoa

Pedra Furada

Saímos às 4 da tarde em direção a Pedra Furada,n a estrada novamente bem acidentada, podíamos ver a vegetação rasa típica do Cerrado. Para chegar na Pedra Furada é necessário fazer uma trilha bem tranquila. Tente não gritar quando chegar pois as abelhas costumam fazer colmeias por lá então cuidado.

Pedra Furada

Segundo dia – Cachoeira da Velha

Nessa noite o menino São Pedro mandou água a balde do céu. Devido a intensa chuva da noite, a água da cachoeira estava bem escura pela manhã. É a natureza, infelizmente estas tem coisas que não podemos controlar.

Mergulho na Prainha do Rio Novo

Alguns metros a frente da queda d’água o rio forma uma prainha boa para descansar. Ficamos por lá um tempo e fizemos um piquenique para o almoço.

Água escura por causa das chuvas

Canyon Sussuapara

O Canyon tem uma trilha um pouco complicada para descer mas não é muito longa. A fenda do canyon é bem estreita, com as paredes úmidas e água pingando por todo lado. Tem muitas plantas, principalmente samambaias e musgos, o que dão um ar bem selvagem ao lugar. A lenda diz que as pedrinhas brancas que estão no chão, servem para serem preenchidas com pedidos para que os espíritos dali os realizem. Eu só pedia para os seres mágicos da florestas não me mandassem nenhuma sucuri.

Canyon Sussuapara

Bônus: Refinaria de Cocaína do Pablo Escobar

Antes de chegar na cachoeira os guias costumam fazer uma parada para usar os banheiros ou trocar informações sobre a condição das estradas com outros grupos. Acredita-se que este “galpão” foi esconderijo do colombiano mais famoso depois da Shakira, Pablo Escobar. Vale a pena a parada.

Residência do segundo colombiano mais famoso da história depois da Shakira, Pablo Escobar

Pôr do Sol nas Dunas

Esse é um dos passeios mais lindos do Jalapão. Existe um oásis logo perto dali, formado por dunas laranja, rios e palmeiras igual a um conto de fadas. O intenso dourado das dunas ganha mais força no final do dia com o sol. Elas são formadas pela erosão e tem algumas regras, como somente seguir a trilha para subir sem pisar na borda dela. Não pense em fazer um esquibunda no grande paredão da frente das dunas (nos fundos pode). Do alto você terá a visão de todo o “deserto” em meio ao Cerrado. A visitação é até as 17:30 e a entrada é gratuita.

Dunas do Jalapão

Terceiro dia  – Cachoeira do Formiga

A cachoeira do formiga fica a 40 km de Mateiros, e é surreal. A água é de um azul cristalino que não tem como registrar em foto. Se você não sabe nadar, fique tranquilo, pois tem a área para “crianças”. A cachoeira forma um segundo lago com correnteza bem fraca e menos de um metro e meio de profundidade. Tente chegar cedo pois este foi o ponto turístico que eu mais vi gente (isso eram umas 10 pessoas).

Cachoeira da Formiga

Fervedouro Ceiça

O negócio mais incrível que eu já tive a oportunidade de ver! Imagine você ter uma piscina de uns 7 metros de profundidade que você não afunda. A sensação é indescritível.  A pressão da nascente  é tão forte que mesmo que você faça força pra descer você não consegue. Este fervedouro é um dos mais rasos, alguns chegam a ter  60 metros de profundidade!

Fervedouro Ceiça

Visita na comunidade Quilombola Mumbuca

A comunidade deu origem ao artesanato do capim dourado. Algumas cenas da novela foram gravadas por aqui. O local é simples e você pode entrar em contato com a cultura local. Tem muitas peças de capim dourado se você quiser levar de presente pra casa. É um trabalho muito lindo e em cada peça tem o nome do artesão que produziu. Se você for em setembro, é possível presenciar as festas de colheita do capim dourado.

Quarto dia – Fervedouro Bela Vista

De novo, na noite anterior choveu muito. Infelizmente não podemos controlar esses imprevistos, e as águas do rio transbordaram deixando o belo fervedouro de águas cristalinas num tom escuro. Mas fazer o que? botar o biquini e entrar o mesmo.

Cachoeira das Araras

A Cachoeira das Araras é uma parada estratégica para quem está saindo de São Félix do Tocatins a caminho de Palmas. O local é tranquilo mas a água é geladinha. Para almoçar, o local mais próximo é o Restaurante Cachoeira das Araras que funciona somente com reservas. Este restaurante é de um gaúcho de São Borja muito gente fina. Por incrível que pareça o local sobrevive sem energia elétrica. Merece uma visita.

Cachoeira das Araras

Serra da Catedral

Paramos para descansar da viagem num pequeno barzinho de palha, onde todos estavam concentradíssimos assistindo a final do The Voice Kids! Dali tínhamos a visão privilegiada para a Serra da Catedral onde dá para tirar trocentas mil fotos. Não deixe de comprar um potinho de paçoca de carne seca e provar os picolés diferentões do Cerrado. Provei o de seriguela (que ainda não sei o que é) e não me decepcionei, já o de Buriti, altamente não recomendo.

Serra da Catedral

Quinto dia – Cachoeira Escorrega Macaco

Não sei se o nome tem algum vínculo com os turistas desavisados que facilmente escorregam por lá. Na real eu descobri que o nome é por causa de uma planta homônima a ela. A Cachoeira tem aproximadamente 50 metros de altura com água bem gelada. Não tem como nadar nela devido sua queda não formar um poço.

Cachoeira Escorrega Macaco

Cachoeira da Roncadeira

Ela recebeu esse nome devido ao barulho que a água fazia ao bater nas pedras, que lembrava uma “Roncadeira”. Ela é bem grande, ótima para nadar, e achei a água mais agradável que a anterior. A trilha para chegar nela é bem sinalizada, mas lembre-se de levar água e alguns lanchinhos, pois são quase 1,5 km. Eu não sei que santo baixou em mim que eu quis por que quis fazer rapel nela. A trilha para chegar no seu topo é bem complicada, com pontos que você precisa de auxílio de uma corda, tipo essas de crossfit, para subir. O guia brincava comigo que lá só tem cascavel, e elas avisam se estiverem por perto. Super me acalmei com isso, só que não. A descida pelo rapel dura uns 15 minutos e você consegue rezar uns 4 rosários e se arrepender umas 20 vezes. O instrutor fica com o seu celular e fotografa a sua cara de pavor. Brincadeiras a parte, eu gostei tanto que queria fazer de novo. Recomendo!

Rapel na Cachoeira

Cachoeira da Arara – Taquaruçu

Passadas as emoções do rapel, fomos até Taquaruçu almoçar. Paramos na Fazenda Ecológica e a tarde faríamos uma trilha para a Cachoeira da Arara que tem uma queda estilo “Janela do Céu”, infelizmente estava nublado e não conseguimos ver o efeito da luz do sol na água. O mais incrível dessa cachoeira que fica na propriedade da fazenda que almoçamos são os próprios guias. Luke e Thor, dois labradores simpáticos são quem conduzem os turistas pela trilha. Eles fazem o caminho certinho até a cachoeira e ainda param pra nadar junto com as pessoas. Eles já foram notícia até no G1.

Luke, o melhor guia ♥

O nosso guia ainda senta pra tirar foto junto

Quando visitar o Jalapão?

Tecnicamente, na metade de abril as chuvas já deveriam ter parado, porém eu peguei alguns dias chuvosos e nublados. O ideal é ir de maio a setembro, lembrando que em setembro tem a colheita do capim dourado.

Agências de Ecoturismo

Posso visitar  o Jalapão por conta? Era minha ideia inicial, porém não recomendo. As estradas não são sinalizadas, e estão em péssimas condições. É preciso ter um veículo 4×4 para ir com segurança. Muitas estradas nem aparecem no Google Maps e a não ser que você não queira protagonizar um “Largados e Pelados” na vida real eu recomendo que você vá com um guia. Vai ficar mais barato e você não precisa se preocupar com absolutamente nada. Existem inúmeras agências de ecoturismo com diversos roteiros para todos os gostos.

Jalapão Extremo Ecotour

A empresa que eu escolhi foi a Jalapão Extremo Ecotur. O Alex, dono da empresa,  foi quem nos guiou a viagem inteira. Muito divertido ele conhece todos os cantos da região do Jalapão. Ele sempre levava lanchinhos e água durante as viagens e também era o fotógrafo oficial do nosso grupo.  Viajamos eu e minha amiga Raquel, e nossa data coincidiu com 3 mulheres que estavam viajando por conta própria, então ele nos juntou em um grupo só, e a viagem ficou muito mais divertida. Aconselho você reservar os passeios com antecedência pois o fluxo de turistas por lá vem aumentando.

Custos

Vamos a parte mais importante.

As passagens foram compradas com 5 meses de antecedência numa promoção da Gol. Eu nem sabia se ia poder viajar até lá, mas na minha opinião, sempre arrumamos um jeito.

Passagens: Porto Alegre – Palmas (conexão em Brasília) / Palmas – Porto Alegre (conexão em São Paulo): 450,00 pela Gol

Hotel: Reservamos Hotel para dois dias, um na chegada e um na volta, na região central. Ficamos no Hotel Capim Dourado, bem simples e próximo aos shoppings: R$: 190,00 para duas pessoas.

Jalapão: O pacote pelo Jalapão inclui desde todas as pousadas, café da manhã, almoço e janta, bem como lanches no caminho, água, taxas de entrada nas propriedades particulares e seguro de viagem, enfim, tudo. Valor: R$: 2500,00 (valor contendo duas ou mais pessoas no veículo). Este valor foi referente ao mês de abril de 2018.

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