Roteiro de 15 dias pela Namíbia, África do Sul e Zanzibar
Senta aqui, que agora vou contar o causo de quando meus amigos decidiram ir pra África e me convenceram que seria uma boa ideia.
Vamos lá. Eu havia voltado de um intercâmbio/ano sabático na Itália em setembro, sofrendo por não ter conseguido bolsa de estudos pra cursar o mestrado que eu queria, sem rumo na vida. Eis que aparece aquela promoção louca na Black Friday: São Paulo — Johanesburgo por 700,00 (mais taxas, claro). Qual o melhor jeito de esquecer uma viagem? é fazendo outra viagem. Entrei nessa com meus dois amigos de escola, o menino Rafael e o menino Matheus.
Decidindo o Roteiro
Compramos a promoção que era para 15 dias, saindo de São Paulo com uma conexão em Angola. Moramos próximo a Porto Alegre, e queríamos que o primeiro destino fosse Windhoeck, Namíbia. Só nessa brincadeira seriam 4 vôos e um dia perdido em conexões. Tudo bem até ai, não fosse o pequeno deslize de termos errado na planilha o horário saída do último vôo (Johanes- Windhoeck) que nos deixou com uma conexão de 45 minutos em vez de 3 horas. Nunca na história desta indústria vital corremos tanto para pegar um vôo! Cruzamos o aeroporto de Johanesburgo em 10 minutos, passamos pela imigração, que estava totalmente vazia, e chegamos 3 minutos antes de encerrar o embarque.
Primeira parada: Namíbia — Sossusvlei, Deadvlei, Sesriem
Optamos por alugar um carro na capital, e sair cedinho até o deserto para pegar o nascer do sol e ver a coloração das dunas nesse horário. Conseguimos? Não.
O que você precisa saber sobre Windhoeck, é que mesmo sendo uma cidade grande e bem desenvolvida, suas lojas, restaurantes, shoppings fecham as 17:00. Nós nos atrasamos porque ficamos brincando na wifi do hostel e não conseguimos trocar dinheiro e nem comprar comida para passar o dia no deserto. Por sorte encontramos uma loja de conveniência aberta, onde compramos água, pão e manteiga de amendoim, que foi nossa comida por muitos dias.
Saímos as 3:00 da manhã de Windhoeck em direção a Sossusvlei, as estradas são bem asfaltadas e sinalizadas até a metade do caminho, depois começam os trechos de estrada de terra, mas nada muito complicado. Nosso plano era chegar até o parque, e lá você pode pagar por um transfer, uma 4×4 estilo safári com um motora mais louco que o Marco Véio que te leva pro Deadvlei. Até lá, não é preciso alugar um carro 4×4.
Pelo caminho encontramos, corujas desconfiadas, um moço pedindo carona no meio do nada, zebras, muitas zebras, gnus, oryx (esse bicho é um amor), babuínos, veados e mais zebras. E que susto com as zebras? Achávamos que elas iriam atacar se nos movêssemos. Malditos documentários do National Geographic
Primeira parada: Solitaire
Uma cidade fantasma que deve ser onde o Eustácio a Muriel e o Coragem devem morar. É o único ponto no caminho até o deserto com posto de gasolina, então é parada obrigatória. Aqui começaram os perrengues, nosso carro deu problema, o porta-malas resolveu que não ia mais fechar. Um senhor muito simpático que trabalhava na oficina ali perto do posto consertou para nós, sem cobrar nada.
Sossusvlei: Duna 45, Big Daddy (not Sugar Daddy) e Deadvlei
Devido nosso imprevisto com as zebras, oryx e o porta-malas quebrado, perdemos o nascer do sol e chegamos em torno das 9:00 da manhã. Hora de se besuntar em protetor solar e repelente. Eita lugar que tem moscas essa Namíbia! Chegando no parque Namib-Naukluft National Park, você paga uma taxa de entrada no parque que te permite passar pelas duas dunas principais, a Duna 45 e a Big Daddy. Você pode subir elas, é bem puxado, eu gorda reclamei o caminho inteiro mas consegui.
Deadvlei
Deadvlei é o nome dado àquelas árvores secas que parecem uma pintura. A cadeia de montanhas que se formou impede que a a umidade passe por lá, ou mesmo que chova, então o lugar virou um cemitério de árvores. Gostaria muito de acampar por lá, mas dá uma bela multa se você tentar fazer isso. Nesta parte você precisa pagar pelo transfer do tio mais louco que o Marco Véio pra chegar. O motorista te deixa na entrada do lugar e você vai caminhando (pelo deserto) até chegar no vale.
Sesriem Canyon
Canyon Sesriem fica fora do parque, ha uns 20 minutos de distancia, entrada gratuita. Cuidado com a estrada! É de terra, bem ruim, inclusive perdemos a calota do carro nesse trecho.
Leia mais: As belezas (e perrengues) da Namíbia
Onde ficar?
Existem vários lodges e restcamps no caminho, inclusive descobri esses dias que é possível ficar dentro do parque. Nós optamos por ficar em Rietoog, uma cidade que fica a 2 horas de distância do parque. Foi a opção mais barata que encontramos. Capricorn Restcamp, é um lodge administrado por um senhor alemão muito querido, que nos emprestou adaptadores e me deixou brincar com o cachorro dele.
Segundo destino: Africa do Sul: Cape Town e Gardens Route
Retornamos a Windhoeck no dia seguinte, e pegamos um vôo até Cape Town pela South African Airways. Já começou o close errado aqui, quando o avião era super pequeno e tentamos subir com nossos mochilões ignorando o moço da segurança que queria que despachássemos nossas coisas.
Devido nosso curto tempo ficamos 2 dias apenas em Cape Town, a cidade tem muita coisa para fazer, desde museus (que pulamos todos) até mergulho com tubarões, snorkel com focas, trilhas, parques nacionais e praias.
Aqui também alugamos um carro no aeroporto e devolveriamos no aeroporto de Port Elizabeth finalizando a Gardens Route.
Table Mountain National Park e Boulders Beach
Você pode chegar ao topo da Table Mountain de teleférico e descer pela trilha, ou vice-versa. Eu cai duas vezes nessa trilha maldita, as pedras são muito lisas, e tem várias fendas, onde você pode enfiar seu pezinho. Minha dica: faça todo caminho de teleférico. Se for na sexta feira e você tiver carteirinha de estudante o valor é de meia entrada.
No caminho é possível visitar a Boulders Beach, famosa pela visita de pinguins ❤ A água é muito, mas muito fria. E não tente chegar muito perto dos bichinhos, tem uma senhora vestida de civil que vai gritar DONT TOUCH (e não é a Narcisa).
Cabo da Boa Esperança e Cape Point
Cabo da Boa Esperança é onde o Atlântico se encontra com o Índico, antigamente era chamado de Cabo das Tormentas e acreditava-se que era o ponto mais extremo da África. Infelizmente, mais uma praia de água gelada. Ah, o lugar venta muito! Péssima ideia ir de vestido soltinho.
Existem vários “view point” pelo caminho, o bom de estar de carro é que você pode ir parando para aproveitar a vista. Caso não alugar carro, você pode optar pelo BazBus, uma linha de ônibus turístico hop on hop off que faz esse trecho.
Leia mais: O que fazer em 2 dias em Cape Town
Você também pode visitar Cape Point, prepara as pernocas que aqui tem escada pra subir! Mas a vista vale a pena! Fica a uns 20 minutos do Cabo da Boa Esperança
Leia mais: Gardens Route: A rota mais bonita da África do Sul
Scaraborough Beach e Camps Bay
Chega de subir escadas, vamos voltar pra praia. Scaraborough Beach fica um pouco mais longe, É uma praia boa para surf (mais vento) com areia branquinha e vários tons de azul! Porém, água muito fria 🙁
A praia é linda, vale a pena parar pra descansar mesmo com a água gelada.
Última parada antes da Gardens Route, Camps Bay! Particularmente eu não gostei dessa praia, motivos: muito turística! Enquanto a Scaraborough tava vazia, só para nós e uns par de surfistas gatinhos, a Camps Bay é aquele rebuliço de gente, barzinho, restaurante, música, trânsito e busão de excursão. Porém, a praia é cercada pela cadeia de montanhas, o que deixa o lugar incrível, mas adivinha? Água gelada 🙁
Gardens Route: Mossel Bay — Port Elizabeth
Gardens Route é trecho que conecta a parte oeste da África do Sul à parte leste. Existem várias cidades que você pode ir parando. Quem curte enoturismo tem a opção de visitar diversas vinícolas pelo caminho. Nossa primeira parada foi Mossel Bay, uma prainha bem calma e charmosa (VOU NEM FALAR QUE A ÁGUA ERA FRIA), mas o mais épico desse lugar é o hostel Santos Express! A galera restaurou um trem antigo que os vagões são quartos! E o melhor, fica na beira do mar! Simplesmente incrível (e muito barato, uma noite custou nem 30 REAIS, quarto de 16 pessoas).
Knysna Elephant Park Stormsriver e Tsitsikama National Park
Seguimos no dia seguinte em direção a Stormsriver, mas antes fizemos uma parada no Knysna Elephant Park. Pesquisei muito antes de escolhermos parar aqui. Eu não gosto de turismo com exploração de animais, porém esse parque é um “orfanato”, os bebes elefantes órfãos, resultados de caçadas são adotados, também foram resgatados animais de circos, e vítimas do tráfico de marfim. O parque tem mais de 20 anos e faz um trabalho lindo. Os guias te ensinam a respeitar o animal e mostram que eles são livres pra irem embora. É incrível como esses danados ouvem o barulho dos carros entrando no parque e já vão esperar a comida!
Fique atento pro desconto na carteirinha de estudante aqui também! Você pode comprar a parte um balde de frutas e pode alimentá-los. Acho que foi o lugar que eu mais amei na África do Sul
E segue o baile! Se você tiver tempo, pode visitar a Cangoo Caves que fica relativamente próximo a essa região. Nós seguimos até Stormriver e ficamos hospedados num chalé muito simpático, Mountain Breeze, da dona Anita, uma senhora muito simpática também! Aqui é o paraíso pra quem gosta de esportes radicais, e também é a base para quem quer saltar do maior Bungee Jump de ponte do mundo. Os meninos pularam.
Tem opções mais tranquilas, como kayaking na baía do Tsitsikama, snorkel, tirolesa, windsurf e vários outros. Escolhemos ir conhecer o Tsitsikama National Park. Nesse ponto eu já nem falo que a praia aqui é muito fria também. Então ficamos na trilha tranquilinha.
Seguimos no dia seguinte até Port Elizabeth, onde ia começar a maratona de aeroportos até chegarmos em Zanzibar, na Tanzânia. Fato curioso, tem MUITA gente pedindo carona nesse trecho, eles ficam com dinheiro na mão acenando para os motoristas. Nesse trecho também tem Baz Bus passando pelas principais cidades da Gardens Route. É uma opção legal, mas fique ligado que eles não tem ônibus todos os dias na mesma direção, é preciso planejar e reservar as passagens com antecedência.
Próxima parada: Tanzânia
Agora sim veio o choque cultural! Chegamos em Dar Es Salaam no fim do dia, pegamos um taxi até o hostel que ficava a 10 minutos do aeroporto. Parecia que eramos os únicos turistas por ai. As mulheres cobrem o corpo com as vestimentas islâmicas, só que extremamente coloridas, influência da cultura Hindu. Uma mistura de Saris com Hijaabs. Outro fato curios, as meninas usam o véu desde os 4/5 anos de idade.
Ficamos uma noite apenas em Dar Es Salaam, para pegar o vôo pela manhã até Zanzibar. Detalhe que o vôo é feito num teco-teco muito pequeno, acho que estávamos em 10 pessoas ao todo e leva 30 minutos para chegar em Zanzibar.
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Stone Town, Nungwi Beach e Kendwa Beach
Como somos mochileiros bem low-budget e gastávamos nosso dinheiro comprando artesanato africano, optamos por fazer tudo de transporte público por aqui. No aeroporto existem transfers que te levam até Nungwi Beach, parte norte de Zanzibar, por apenas 50 dólars cada um. Achamos muito caro e resolvemos pegar os famosos dala-dala, um caminhãozinho decorado entulhado de gente, mas que custava em torno de 2 dólars.
Sério, foram duas horas sacudindo nesse caminhãozinho, com umas 20 pessoas dentro, pilhas de lenha, baldes de leite, cachos de banana, sacolas de pães e biscoito que as mulheres vendiam na cidade. Todo mundo estava chocado e perguntavam “por que vocês não pegaram o transfer do aeroporto?”. Aparentemente não é muito comum os turistas fazerem isso.
A mãe de uma menina que não falava nada de inglês deu a criança pra gente segurar enquanto ela fotografava com o celular. Viramos celebridade. Do meu lado tinha uma mulher coberta pelo niqab muito desconfiada de mim, me encarou a viagem inteira, e quando eu olhava pra ela, ela desviava o olhar, gostaria de ter conversado com ela.
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Em Nungwi Beach, ficamos num hostel chamado Homeland Swahili Lodge, administrado pelo auto intitulado Crazy Man. Preciso falar de quão incrível é esse lugar, pagamos 40,00 (reais) cada um por um quarto enorme. Crazy Man é muito prestativo, viu que nós chegamos exaustos da maratona de dala-dalas e preparou um, monte de frutas e sucos para nós. Emprestou três bicicletas para chegarmos na praia (10 minutos de lá). Sem falar no café da manhã (acho que foi o único dia que a gente não passou fome). O hostel também tem troca de livros, então você pode deixar o seu, e trocar por outro. Sem falar que o lugar é um amor.
Leia mais: Hospedagem em Zanzibar: Homeland Swahili Lodge e o Crazy Man
Agora sim chegamos nas praias em que a água não é gelada!
MUITO CUIDADO: Se liguem na tábua de marés! Quando a maré estiver baixa, pelo amor de tudo que é mais sagrado, entre na água com sapatos específicos, é cheio de corais! Adivinha quem deu uma bicuda num ouriço e ainda tá com espinhos no pé? Pois então, ninguém me avisou e eu fui nadar. Tive que ir pra uma tenda ali perto onde esterilizaram umas facas de osso com querosene e óleo de papaya, cortaram meu pé pra puxar os bonito fora. E também, tem lugares que somem com a maré no final do dia, não vá ficar ilhado no meio do nada!
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No final do dia, fizemos um pequeno cruzeiro com um amigo do Crazy Man até Kendwa beach (aqui é a praia dos rycos). O barquinho para no meio do mar pra galera descer pro snorkel, são uns 4 metros de profundidade com visão muito limpa! E ainda podemos ver o pôr do sol no barco. Pagamos em torno de uns 60 reais todo esse trajeto, que incluía muitas frutas de janta.
Última parada: Uroa Beach
Normalmente as pessoas vão para Paje Beach, que é boa para esportes. Porém, deu a louca no booking e consegui um resort de frente pro mar por 70 reais a diária. É O QUE? Isso mesmo, mais barato que passar um fim de semana em Arroio do Sal. Notamos muitos italianos por Zanzibar, inclusive esse hotel é administrado por uma italiana bem louca.
Uroa não é muito boa para nadar, devido as barreiras de corais, porém na maré baixa você pode caminhar por quilometros mar a dentro, seguindo os bancos de areia. Aqui tem muitas mulheres locais colhendo algas para vender nos mercados. Também é possível visitar o The Rock, um restaurante caríssimo que fica em cima de umas pedras.
Passamos dois dias aqui fazendo absolutamente nada! Caminhávamos de manhã, e ficamos admirando o mar. Aproveitamos as casinhas de artesanato, compramos um monte de besteira e o Rafael ainda fez amizade com os guris e ficou jogando futebol com eles. A propósito, eles são muito fãs do futebol brasileiro, e ainda não superaram o 7×1 da Alemanha.
Hora de voltar!
Mais uma maratona de vôos, Zanzibar-Dar Es Salaam, Dar es Salaam-Johanesburgo (dormir no aeroporto) Johanesburgo-Angola, Angola-São Paulo, São Paulo-Porto Alegre. O que a gente não faz pra pegar o menor preço?
Preços:
Ok e quanto custou essa brincadeira?
Valores em reais para 15 dias de viagem. As hospedagens são bem baratas na Africa em comparação a Europa (e olha que sempre viajo em modo low budget). Nosso hostel mais caro foi na Namíbia, que custou 100,00 cada um. O mais barato foi o Santos Express.
Gastamos ao todo 461,00 reais de hospedagem.
Namibia- Capricorn restcamp, Cape Town- Riverlodge Backpackers, Mossel Bay-Santos Express, Stormriver-Mountain Breeze Lodge, Port Elizabet-Framesby Guesthouse, Dar es Salaam- Airport Transit Lodge, Nungwi- Homeland Swahili Lodge (crazy man), Uroa: Hotel Boutique Moonshine
Sobre segurança pras manas que querem fazer isso sozinhas. Namíbia e África do Sul foram muito tranquilas na questão segurança. Não tive nenhum problema, e todo mundo foi muito simpático e respeitoso. Já na Tanzania, em dar es Salaam não me senti muito segura. Notei que os homens (taxistas, motoristas, até o recepcionista do hostel) não aceitavam negociar comigo. Era sempre com um dos meninos. Outro fato engraçado, eles sempre carregavam as mochilas dos meus amigos, e em nenhum momento me ajudaram. Não estou reclamando, apenas achei diferente o fato.
O que foi um pouco caro foram aéreos internos:
Johanesburgo-Windoheck: 369,00. Windoheck-Cape Town: 460,00. Port Elizabeth- Johanesburgo: 190,00. Johanesburgo-Dar es Salaam 628,00. Dar es Salaam-Zanzibar: 200,00 (mesmo valor de ferry boat). Zanzibar-Dar es Salaam: 200,00. Dar es Salaam-Johanesburgo: 628,00.
Ida e Volta Guarulhos-Johanes 1100,00 com as taxas
Poa-São Paulo: 500,00 (QUE CARO)